sábado, 27 de fevereiro de 2010

Notícia da LUSA de 16 Fev. (íntegra)

Lisboa: Igreja de São José dos Carpinteiros pode ser salva da ruína com subscrição pública
*** Ana Clotilde Correia (texto) e Mário Cruz (Fotos), da Agência Lusa ***
Lisboa, 16 fev (Lusa) -
Há bocados de talha caídos no chão apodrecido da Igreja de São José dos Carpinteiros, em Lisboa, e aos pés de Nossa Senhora da Fé, baldes recolhem trinta litros de água por dia, pelas contas de um sacristão, "anjinho" de serviço.
Uma subscrição pública, que envolva a população e as doações de grandes empresas é a via para a reabilitação proposta pela Junta de Freguesia de São José e pelo recém-criado grupo dos amigos da Igreja de São José dos Carpinteiros.
A degradação da Igreja do século XVI, de estilo barroco e pombalino, fechada há cerca de três anos, foi descoberta quando a vizinha Igreja de São Luís dos Franceses entrou em obras e quis usá-la para celebrar as missas da comunidade.
Começou aí a missão de "anjinho" de Vicente Andrade, sacristão de São Luís dos Franceses, que passou também a cuidar de São José dos Carpinteiros.
"Tenho tirado trinta litros de água da chuva todos os dias, às vezes mais. Num património destes dá dó", conta à Lusa o sacristão a quem Ana Alves Sousa, do grupo de amigos da Igreja de São José, já deu o nome de "anjinho da Igreja".
Aos pés do altar a Nossa Senhora da Fé acumulam-se baldes de plástico onde cai, abundante, do teto a água da chuva, e nas paredes são visíveis as infiltrações.
"Todos os dias chego aqui e está mais um bocado de talha caído no chão, que também está todo apodrecido", conta Ana Alves Sousa.
Esta é para Gonçalo Ribeiro Telles, que preside à Irmandade de São José dos Carpinteiros, a terceira luta da instituição e do lugar, depois das investidas anti-clericais da I República, que terão feito esconder numa parede um São Onofre - que ainda não foi encontrado - e do Estado Novo, que queria ali instalar a Câmara Corporativa.
"A luta agora é evitar que caia", afirma.
A ligação aos ofícios levou, aliás, ao projeto de um "museu do trabalho", uma iniciativa entretanto abandonada, mas que o grupo dos amigos da Igreja de São José quer agora recuperar.
O presidente da Junta de Freguesia de São José, Vasco Morgado (PSD), apoia a ideia e acrescenta-lhe uma "escola de ofícios", necessária, "porque nem todos podem ser doutores".
Depois de ter proposto uma recomendação, aprovada na Assembleia Municipal, Vasco Morgado quer agora obter o apoio da autarquia e do Ministério da Cultura para lançar uma "subscrição pública".
O instrumento usado mais usado para construir - o Cristo-Rei, o monumento do Marquês de Pombal e, mais recentemente, de Francisco Sá-Carneiro - deverá servir agora para reabilitar.
"Estamos a contar com toda a gente. A população de São José está sensibilizada, os pequenos comerciantes já me contactaram. Vamos tentar falar com as grandes empresas do país", explicou.
Para já, conta com a "abertura" da Câmara de Lisboa, através da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto (PS), que "está disposta a ajudar" e "deu a sua palavra de que vai interceder junto do Governo".
Mas enquanto o processo não avança, Ana Alves de Sousa adverte que "há entidades que têm responsabilidades" na preservação daquele património e apela à autarquia para que "coloque uma cobertura provisória", que retire os baldes de plástico dos pés do altar a Nossa Senhora da Fé.
Até lá, Vicente Andrade vai continuando a ser sacristão e anjinho: "Pelo menos boa vontade estou a ver de muitas pessoas", confia.
ACL.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Fim.

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