quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Igreja pode ser salva da ruína graças a subscrição pública

In público (17/2/2010)


«"Tenho tirado 30 litros de água da chuva todos os dias", diz sacristão. No Largo da Anunciada , em Lisboa, o templo do séc. XVI vai-se degradando

Há bocados de talha caídos no chão apodrecido da Igreja de São José dos Carpinteiros, em Lisboa, e aos pés de Nossa Senhora da Fé baldes recolhem 30 litros de água por dia, pelas contas de um sacristão, "anjinho" de serviço, descreve a agência Lusa.

Uma subscrição pública que envolva a população e doações de grandes empresas é a via para a reabilitação proposta pela Junta de Freguesia de São José e pelo recém-criado grupo dos amigos da igreja.

A degradação do templo barroco e pombalino do século XVI, fechado há cerca de três anos, foi descoberta quando a vizinha Igreja de São Luís dos Franceses entrou em obras e quis usá-la para celebrar as missas da comunidade. Começou aí a missão de "anjinho" de Vicente Andrade, sacristão de São Luís dos Franceses, que passou também a cuidar de São José dos Carpinteiros, no Largo da Anunciada.

"Tenho tirado 30 litros de água da chuva todos os dias, às vezes mais. Num património destes dá dó", conta à Lusa o sacristão a quem Ana Alves Sousa, do grupo de amigos da Igreja de São José, já deu o nome de "anjinho da Igreja". Aos pés do altar de Nossa Senhora da Fé acumulam-se baldes de plástico onde cai abundante, do tecto, a água da chuva, e nas paredes são visíveis as infiltrações. "Todos os dias chego aqui e está mais um bocado de talha caído no chão, que também está todo apodrecido", conta Ana Alves Sousa. Esta é para Gonçalo Ribeiro Telles, que preside à Irmandade de São José dos Carpinteiros, a terceira luta da instituição, depois das investidas anti-clericais da I República, que terão feito esconder numa parede um São Onofre - que ainda não foi encontrado -, e do Estado Novo, que queria ali instalar a Câmara Corporativa. "A luta agora é evitar que caia", afirma.

A ligação aos ofícios levou, aliás, ao projecto de um "museu do trabalho", uma iniciativa abandonada mas que o grupo dos amigos da Igreja de São José quer agora recuperar. O presidente da Junta de Freguesia de São José, Vasco Morgado, apoia a ideia e acrescenta-lhe uma "escola de ofícios". O autarca quer obter o apoio da autarquia e do Ministério da Cultura para lançar uma "subscrição pública". Para já, conta com a "abertura" da Câmara de Lisboa, através da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, que "está disposta a ajudar" e "deu a sua palavra de que vai interceder junto do Governo".

Enquanto o processo não avança, Ana Alves de Sousa apela à autarquia para que "coloque uma cobertura provisória" no templo. Até lá, Vicente Andrade vai continuando a ser sacristão e anjinho: "Pelo menos boa vontade estou a ver de muitas pessoas", confia.»

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